sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Madrugadas Insones

Além da janela há uma noite escura e fria
de vento sibilante que abre suas lâminas
de navalha sobre minha pele descoberta
o sono acaricia meu rosto, mas como uma mulher
não me toma em seus braços, espera que eu me renda
mas resisto aquele carinho frágil
espanando as areias de meus olhos escuros
acendo um cigarro, sorvo a fumaça cinza
ouço o estalar lento do fumo incandescente
atravesso insone a noite, qual vaso de guerra
perguntam-me alguns se jamais durmo
aos quais respondo “às vezes, quando me lembro “
a natureza dúbia dos lobos, despertos com o sol
uivando nas montanhas para a lua das noites escuras
nunca me fazem o óbvio questionamento
“o que procuras através dessas madrugadas”
porém agradeço não o fazerem, pois nesse caso
mesmo eu não saberia a resposta a dar
atravessei insone as noites quentes de lua cheia
e agora que ela se foi, minguando vagarosamente
as noites são frias e solitárias, prenúncio de inverno
neste outono sem folhas crepusculares flutuando
o dia chega mansamente, mais uma vez
cinzento como a fumaça que sopro no ar parado
tímido, o sol mostra sua face para os lobos
e me pergunto o que busco nas madrugadas insones
que pacientemente, tanto aguardo chegarem

- Paulo Renault - 

sábado, 27 de março de 2010

Questão


Questão primordial neste momento:
se a manhã é de sol
por que mal acordo e já
anoiteço ?

- Helena Jorge - 

Sei lá

Não sei o que faço
e quando intuo
desfaço

Não sei o que penso
e quando percebo
despenso

Não sei o que digo
e quando me ouço
desdigo

Não sei por que vivo
mas quando me perco
revivo.


- Helena Jorge - 

domingo, 21 de março de 2010

Arder

Ela sente uma estranha efervescência em seu sangue,
Assim como se ele tivesse se transformado em lava.
Incandescente.
E se arrastasse, queimando, pelas suas veias...
Um cheiro forte de jasmim meio que a embriaga,
Entorpece.
E a lembrança do contato das peles a torna inerte,
Vencida,
Muda...
E em sua mudez, ela repete seu nome,
Como um mantra
Palavra mágica que lhe abre as portas dos sonhos
Dos desejos
Do prazer.



- Helena Jorge - 

Boca

De sorrir teu sorriso
De comer tua boca
De falar tuas palavras
De sussurrar em teu ouvido...
Palavras
Desconexas
Inteiras
Frementes
Capazes de criar
Sons e cores
Na tua pele.


- Helena Jorge -