quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para Scórpio

Em meio a tempestade não vemos nada a nossa volta.
O fulgor dos raios nos estremece a alma ao mostrar um instantâneo da paisagem revolta.
Mas o lobo em nosso íntimo nos recorda de que é necessário seguir em frente, mesmo que contra o vento.
O amanhecer virá nos beijar a face com um sol tranquilo que aquecerá os ossos enregelados e a alma aflita.

Te amo na veia e nunca menos do que isso!

Slán agus Solas


- Paulo Renault -

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SE

E
se nada houvesse acontecido?
se nada fosse da forma que vemos hoje?

E
se os caminhos seguidos fossem outros
se as conseqüências fossem as esperadas?

E
se fossemos mais corajosos
destemidos
se ousássemos mais?

E
se esta nossa ousadia nos transformasse
transmutasse
no ser ideal?

E
se simplesmente tivéssemos a coragem
o destemor
a insensatez
de sermos pura e simplesmente
o exato objeto de nosso desejo?

E
se a vida fosse um presente
e não um fardo
a ser duramente carregado?

E
se
tivéssemos a audácia de ser
total e despudoradamente felizes ?

- Helena Jorge - 

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Clara

Garoa fina encobre a cidade neste primeiro dia de primavera e a tarde se arrasta, nublada e fria.
Aqui, deste sexto andar, tento driblar o tédio que teima em se instalar e dedilho o teclado do computador, talvez aguardando uma inspiração divina... E ela me chega, da forma mais absurda e maravilhosamente simples: Latidos vindos da rua.
Por um destes motivos inexplicáveis, paro o trabalho e vou até a janela observar de onde eles vem. Na calçada do prédio em frente, Clara, uma enorme mancha branca como seu nome já diz, corre e balança o rabo para seu dono. Late feliz e eu posso ver daqui os sorrisos que se abrem, escancarados, no rosto de ambos. Cão e dono.
Me perco no tempo, observando ambos correndo e brincando como duas crianças, esquecidas do universo ao seu redor...

Neste início de primavera chuvosa e fria,
Clara se faz luz.
Neste início de primavera,
Clara
clareia meu dia.


- Helena Jorge - 

sábado, 3 de outubro de 2009

Olhares

Terça-feira chuvosa e fria.
Saio do supermercado distraída e apressada, como convém a uma legítima paulistana, tentando equilibras as sacolas.
A menina, ainda em uniforme de escola caminha em minha direção. Nossos olhares se cruzam e o brilho que trás neles meio que me hipnotiza. Impossível não sentir percorrer pela minha pele a profunda alegria que se faz naquele rosto.
Paro, sigo seus olhos e encontro o destino de tal luz: Ele, igualmente no uniforme escolar, de sorriso e braços abertos, irradia o mesmo brilho, a mesma luz...

É... É primavera e um cheiro doce de tenros anseios envolve os corpos daqueles dois.

Helena Jorge